Canindé tem mais de seis mil pessoas dependendo de carros-pipa em zona rural.

Bairros da sede urbana são abastecidos em sistema de racionamento a cada três dias, com água transferida do açude General Sampaio, que fica a 60 km na cidade vizinha

Em Canindé fica a 121,3 km da Fortaleza, Capital do Ceará, a sensação é de que a seca nunca deixou de existir. Ou pelo menos dura mais tempo do que as contagens oficiais. 

Na cidade do Sertão Central, o gestor da vez à frente da prefeitura municipal cumpre há mais de uma década uma espécie de obrigação administrativa. ⁠

Desde 2012, quem está na cadeira de prefeito assina o decreto local que estabelece a Situação de Emergência, com validade de 180 dias. Por necessidade, diante do quadro de estiagem permanente. ⁠

O decreto mais recente foi assinado no último dia 22 de novembro pela prefeita Rozário Ximenes (DEM).Clique aqui para baixar o PDF. O documento detalha que "90% da zona rural não possui mananciais hídricos com água potável para o consumo humano de suas populações". O município ultrapassou 74 mil habitantes, conforme o último censo demográfico.

Além de atestar a insegurança hídrica constante na região, respaldado por pareceres técnicos, o decreto busca o reconhecimento federal que facilite o acesso da gestão a recursos que possam amenizar o "desastre classificado e codificado como estiagem" (descrição feita no documento).

É com o decreto que fica assegurado, por exemplo, o atendimento da Operação Pipa. Atualmente, o município tem 21 caminhões distribuindo água para 6.256 pessoas em 146 comunidades de 11 distritos da zona rural. Já foi muito pior, segundo Júnior Mourão, diretor de Proteção e Defesa Civil do município. "Em 2015, a população atendida era de 20 mil pessoas."Mourão defende que o abastecimento passe a ser uma política pública, e não mais um programa que dependa sempre de decretações de emergência para o atendimento aos municípios. Eliminaria a obrigatoriedade de um período tão longo de atos administrativos seguidos, como em Canindé.As verbas federais ou estaduais também possibilitam a construção de cisternas, chafarizes, poços e ligação de adutoras. 

A água que abastece a sede municipal, zona urbana, vem 60% transferida por adutora do açude General Sampaio, no município vizinho, distante 60 km. Sem esse reforço, não haveria água para a cidade. 

Os reservatórios de Canindé têm pouco aporte ano após ano. As chuvas são mal distribuídas no mapa do município. Mesmo em 2023, quando as precipitações foram consideradas pelos meteorologistas como dentro da média no Estado — as melhores desde 2020. "Às vezes chove 100 milímetros num local e quase ao lado não chove nada. Aqui é assim quase sempre", descreve Júnior Mourão.

Dois dos quatro açudes da cidade monitorados pela Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh) estão totalmente secos. O Sousa está com 0%; o Salão, 0,03%. E praticamente estiveram assim na última década. O Escuridão, com 29,75% da capacidade, está com apenas 810 mil m³ (dados em 6/12/2023). A evaporação acelera essa perda diariamente — 11 dias antes, estava com 820 mil m³.A água do São Mateus, único em percentual mais confortável, 60,93% ou 6,29 milhões m³, está sendo distribuída para a zona urbana por racionamento, através de rodízio nos bairros da sede a cada três dias.

 Para ter a dimensão de como a seca é duradoura, o açude Sousa foi inaugurado em 1998 e, de lá pra cá, só sangrou uma vez, em maio de 2009. Desde 2013 a 2020 sofre declive no aporte, sua maior cota nesse período foi de 10,4 e hoje seu volume é morto.

Fonte: OPOVO-Online



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